Náusea. Do grego naus, que significa navio.
Navegante desse mar de gente, cada qual com sua história.
Num dia de primavera levanto e me apronto para o trabalho, sem vontade de deixar a cama.
Mesmo depois de tanto tempo de carteira assinada, ainda me dói a cabeça pensar no que vou encontrar dali em frente.
Primeiro o trânsito. De manhã ainda gosto, a brisa fresca traz certa esperança.
O carro compartilhado me obriga a manter um diálogo. Conversar destrava o maxilar...
O sol, o vento, os carros, caminhões, motos e buzinas. Tudo isso se mistura numa paisagem que nenhum artista do século XIX se entusiasmaria em pintar.
Me questiono por que mantemos esse ritmo, dia-após-dia sem a intenção de mudar.
O stress começa desde a hora que saímos de casa, e continua ao decorrer do dia.
O trânsito é um campo de batalha, qualquer carro que corra menos que o nosso, ou seja menos potente, menos bonito, qualquer carro ou moto ou caminhão que não sejam os nossos, são praticamente considerados nossos inimigos. Os palavrões são constantes, eu diria até que fazem parte do trajeto. Um dia sem xingar no trânsito é um dia vivido com menos entusiasmo.
Chegar ao destino causa nervosismo, é preciso lembrar de dizer bom dia sorrindo ou vão pensar que aquele foi um dia ruim e é melhor se afastar.
As horas passam como se o relógio estivesse quebrado. Me pergunto se alguém ali sabe o que está fazendo, ou se todos estão perdidos e com o ego inflado demais para assumir a falta de rumo.
É preciso muito para se impôr. O trabalho parece uma extensão do trânsito. O medo fala mais alto que a vontade de ajudar.
Um ciclo imutável de ofensas e pânico. Um ringue onde quem vence a luta não é o mais forte, é o que menos absorve. 
Quem absorve demais sente náusea demais.
Os anos anos como navegantes nos tornam experientes para enfrentar as tempestades.
Eu sou o comandante do navio desbravando o mar da vida.
Nesse mar é possível encontrar todo o tipo de gente.
Algumas pessoas são âncoras e nos fazem estagnar.
Outras pessoas são vento e permitem que o navio flua.
Têm as que são Porto e dão vontade de ficar... Mas o navio precisa continuar.
Às vezes não damos sorte e somos atingidos por alguma tempestade terrível!
As tempestades são inevitáveis, um navio bem cuidado com um bom capitão não afunda facilmente.
Depois de um tempo, as náuseas não incomodam mais, a tempestade vai embora e o céu se abre.
É possível sentir uma brisa suave e a paisagem vira quadro.
Cada um é capitão do próprio navio. Muitos estão navegando sem imaginar seu destino. Outros muitos nem conseguiram ainda perceber que estão navegando!
A chegada é importante, mas pensar no fim não me impede de admirar o caminho. 
  

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